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Depoimentos

Arte insular sem fronteiras

 

 

Por Valmir Santos

 

Prestes a completar 30 anos de empenho em práticas, ações e pensamentos artísticos e culturais, o Teatro Popular de Ilhéus não abdica da capacidade de indignar-se a partir dos lugares da cena e da cidadania. A imbricação estético-política vem desde a gênese, em 1995, quando o Brasil contava uma década do fim da ditadura civil-militar. País em que a maioria da população segue excluída das condições de manutenção da vida minimamente civilizatórias. 

A luta manifesta por direitos sociais, reparações e representatividades teve na criação de Teodorico Majestade – as últimas horas de um prefeito (2006) uma das interações mais significativas do grupo junto à comunidade. O espetáculo vocalizava, dava corporeidade e emanava o espírito do tempo na recriação do episódio real de impeachment de um prefeito selado pela mobilização popular insurgente na cidade do sul baiano. Um documento vivo e portador de olhares livres e universalizantes, por isso mantido até hoje em repertório. Uma obra cuja sensibilidade e sustentabilidade poética guarda aproximações ao universo crítico e cômico de O bem-amado, do soteropolitano Dias Gomes (1922-1999), peça – e depois novela e seriado televisivos – às voltas com os malefício da candidatura, eleição e gestão de Odorico Paraguaçu na igualmente litorânea Sucupira.

Meu encontro com Teodorico Majestade aconteceu na temporada de São Paulo, em 2011, e marca a relação de testemunho das singularidades do coletivo em sua caminhada. Experienciei apresentações de outras montagens sob a tenda armada ao ar livre, em Ilhéus, à maneira de circo. Bem como criações mediadas por telas no contexto da pandemia de Covid-19. 

O caráter processual e a margem de invenção e risco sempre estão presentes, conjugados a atuações e encenações que ambicionam uma comunicação direta com o público. Seja na adaptação de uma comédia russa do século XIX, seja na construção de dramaturgia própria que costura narrativas acerca de acontecimentos e imaginações entre 1789 e 2089, ou vice-versa.

A disposição fabular por vezes é dialética e ancestral, a exemplo da participação de Mãe Hilsa Mukalê em trabalhos recentes do TPI, fundindo saberes e ritos milenares do candomblé e da arte do teatro.

Para manter os atos de pesquisar, criar e produzir, muitos foram e continuam sendo os contratempos enfrentados. O Teatro Popular de Ilhéus é fruto também do esforço incondicional de seus integrantes em perseverar desde o interior da Bahia, equilibrando-se com as rarefeitas ou avaras políticas públicas. 

Sua história configura, portanto, um retrato bem-acabado do esforço permanente de grupos e companhias de pesquisa em solo e sob céus brasileiros. Graças a essa maioria de trabalhadores da cultura com vocação para o ofício coletivo o teatro brasileiro alça voos formais, temáticos e filosóficos de fazer par às produções internacionais mais inspiradas. Na jornada do TPI, nota-se, a arte insular ignora fronteiras.

 

20 jul. 2024

Falar do Teatro Popular de Ilhéus, é falar de um grupo que sempre esteve ao meu lado. Nesses quase quatro anos que  trabalhei com este grupo,  aprendi  realmente sobre o

que é ser ator/ artista e o nosso papel na sociedade, reconhecendo o caminhar da profissão e estabelecendo os primeiros passos. 

Lembro claramente dos espetáculos que participei, em especial O Auto do boi da cara preta, Opereta Porto Sul e A vida de Galileu. Me sinto honrado em ter vivido tantas coisas maravilhosas com eles. A importância desse grupo, não só pra mim, mas pra nossa região é gigantesca e perceber que o Teatro Popular de Ilhéus segue firme, produzindo, criando, inventando me deixa mais animado ainda, é como um alimento pra nossa alma. Na época em que trabalhei na antiga Casa dos Artistas, trocando  com colegas e artistas talentosíssimos, reconheci a beleza dessa profissão, com eles enxerguei que poderia viver de teatro e hoje acompanho daqui, e sempre quando volto a Ilhéus, a luta dessa turma para continuar produzindo, estes artistas, esse grupo, tão indispensáveis para Bahia, para Brasil e para arte como um todo.

Evoé/ Axé ao TPI, caminhos abertos.

Amaurih Oliveira

Um certo dia, transitava pelo comércio de Ilhéus quando, ao passar próximo do Teatro, notei uma aglomeração. Curioso, aproximei-me discretamente para descobrir o que estava acontecendo. Vi que as pessoas estavam assistindo a uma encenação na rua sobre o Boi-Bumbá, e imediatamente fui transportado para as apresentações folclóricas da minha infância em Canavieiras, em datas como o Dia de São Sebastião.

Encantado com a qualidade do espetáculo, fiquei feliz ao descobrir que, tão próximo, havia artistas capazes de cativar o público com suas interpretações. Decidi buscar informações sobre quem eram e como poderia assistir a outros trabalhos.

O que eu não previa era que, com o tempo, e minha crescente paixão pela fotografia de espetáculos, eu me aproximaria tanto do TPI. Fui acolhido por eles com carinho e respeito, tendo a oportunidade de registrar espetáculos incríveis, acompanhar ensaios e até contribuir com fotografias para materiais de divulgação.

Acompanhei a criação de várias produções, destacando "Os Fuzis da Senhora Carrar" como uma das minhas preferidas. Além de ser um espetáculo grandioso, marcou profundamente meu envolvimento com a fotografia de teatro e isso só foi possível devido o TPI ser acolhedor.

O TPI é uma referência na luta pela cultura em nossa região, provando que a qualidade artística não é privilégio das grandes cidades. Eles são um presente ao nosso alcance, sempre de portas abertas.

Kelson Souza

Desde 2007, o Teatro Popular de Ilhéus tem sido uma parte significativa da minha vida. Foi ao assistir à peça "Teodorico Majestade as Últimas Horas de um Prefeito", encenada nas ruas de Ilhéus, que despertou em mim o desejo de exercer minha cidadania de forma inteligente através da cultura. Seja em um drama ou comédia, é possível sensibilizar a população e transmitir mensagens importantes, independentemente do nível de instrução.

 

Em 2008, nossa conexão se fortaleceu ainda mais durante a luta contra a instalação do Porto para escoamento de minério de ferro, e com peças como "Porto Sul: Artimanha do Mal" e "Lendas da Lagoa". A frase de Romualdo Lisboa, "A cidade é movida pela cultura", ficou gravada em meu coração e é uma inspiração constante que compartilho em diversos espaços.

 

Em 2012, o Instituto Nossa Ilhéus foi fundado, estreitando nossa relação através da realização de projetos em parceria. Participamos juntos do lançamento dos indicadores sociais de Ilhéus no Teatro Municipal, onde candidatos ao Executivo comprometeram-se com o desafio do Programa Cidades Sustentáveis. Discutimos os 12 Eixos na Casa dos Artistas, além de projetos como "Lixo para Onde Vamos" da UESC e INI, "MobCidades", a mostra na Tenda do TPI do projeto "Cidade em Movimento", o "Projeto Fortalecimento da COOLIMPA", primeira cooperativa de catadores de recicláveis, e o "CoURB", um projeto de intervenção tipo acupuntura para a primeira ciclovia do município, entre tantos outros momentos significativos.

 

O Teatro Popular de Ilhéus não apenas enriqueceu minha vida cultural, mas também me fez sentir uma cidadã ativa e engajada.

Socorro Mendonça

Todos os espetáculos que assisti do TPI, me encheram de muito prazer e emoção, sempre fiquei muito impressionado com a alta criatividade do grupo e sua imensa garra e vibração nas propostas inteligentes e ousadas que conseguem alinhar linguagens de vanguarda com a legitima tradição do teatro popular. Eis uma trupe que orgulha o teatro brasileiro.​

 

Ramayana Vargens

Quando mudei para Ilhéus em 2012, não imaginava encontrar uma preciosidade como o Teatro Popular de Ilhéus. Surpreenderam-me a beleza da encenação e o texto irônico, transformador. O TPI brilha, pensei; é uma pérola, mas também a ponta de uma flecha.

Tom Figueiredo

Meu primeiro contato com o Teatro Popular de Ilhéus foi em 2012, quando fui morar em Ilhéus, com a peça “Lendas da Lagoa Encantada”, que me impressionou bastante pelo conteúdo que agradou crianças e adultos de todas as idades presentes naquele momento. A partir dali, fui acompanhando a trupe e percebi que o TPI é, para além de um competente grupo teatral, um marco de resistência dessa arte no Sul da Bahia, que tem peças premiadas local, nacional e internacionalmente, mas segue oportunizando e qualificando jovens talentos identificados no decorrer de sua trajetória. Ainda fazem um importante resgate histórico, como em “1789”, peça que remontou ao levante dos escravizados do Engenho de Santana, passando por uma profunda pesquisa histórica e sessões de debates abertos ao público. Igualmente marcante foi a adaptação shakespeariana de “Medida por Medida”, que mais parecia ter sido criada para o Brasil, tal o primor de sua abordagem. Particularmente, encantei-me pelo teor altamente politizado e politizante de suas apresentações, inclusive em suas peças infantis, aliado ao humor ácido e sarcástico presentes na exposição de seus argumentos, além das belíssimas e emocionantes atuações. Em meio a tantos ataques que a arte tem sofrido nesse país por sucessivas gestões, sejam municipais, estaduais ou nacionais, o TPI segue em sua missão de levar arte à uma população carente desse entretenimento, bem como o compromisso de desbancar os coronéis modernos, que seguem costumes arcaicos que devem ser extirpados. Tenho total admiração e afeto por todas/os suas/eus integrantes... Viva o TPI!

Elinalva Suy Barros

Ter memórias do Teatro Popular de Ilhéus para mim representa ter oportunidades de guardar grandes emoções no riso e na reflexão. Passar pela peleja de Baltazar, pelo drama de Teodorico Majestade, assim como o metaverso  BORÉPETEI.UNO me coloca em um local privilegiado de oportunidades no bom entretenimento.

Makrisi Angeli

O Teatro Popular de Ilhéus é uma experiência que leva você a lugares e espaços marcantes e inesquecíveis. Tive oportunidade de ver pela primeira vez na Casa dos Artistas um camarim com figurinos organizados, coloridos e diversos. Já na Tenda, participei de uma oficina de criação de figurinos e adereços. Vi acontecer um casamento a fantasia onde o padre era o mais divertido possível, na pessoa de Takaro e o buffet o mais original e delicioso de todos. Assisti a espetáculos que me teletransportaram a histórias fascinantes. É bom viver o Teatro Popular de Ilhéus com todo seu encantamento e magia. Gratidão a todos os envolvidos! Amo!

Manu Pessoa

É com muita admiração que acompanho o grupo desde 2007, quando cheguei em Ilhéus. Nos momentos mais intensos de convívio, passei a desacreditar na existência do impossível. Diante das adversidades na arte e na vida, o Teatro Popular de Ilhéus não para de criar e encantar, revelando a beleza que nasce na resiliência de ser artista popular no nordeste do Brasil.

Jules

Eu poderia falar muitas coisas sobre o Teatro Popular de Ilhéus. Da força. Da importância. Da beleza. 

Mas eu vou falar de um episódio apenas.

Foi em uma noite, anos atrás, quando fui assistir a uma peça do grupo pela primeira vez. E o que aconteceu comigo foi uma espécie de descoberta da mágica, do encantamento, e de imediato tive a consciência de que estava de frente para algo realmente genial, embora, ao mesmo tempo, extremamente simples.

Meus olhos brilharam e se encheram de lágrimas e eu não escondi de ninguém. A história, a atuação dos atores, a trilha - tudo numa sincronia perfeita e cativante que me alcançou como um tsunami quando chega no litoral.

Voltei pra casa e fiquei com a apresentação na cabeça. E eu sorria sozinho e os olhos voltavam a lacrimejar.

A peça se chamava Teodorico Majestade, espécie de ode aos avessos a um político da cidade. Um texto universal.

E desde aquela noite eu carrego, do lado esquerdo do peito, o Teatro Popular de Ilhéus.

Rodrigo Melo Catitu

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